Em tempos de redes sociais, compartilhar parte da rotina virou algo normal para muitos e até profissão para alguns, que passam a ser reconhecidos como influenciadores. Na infinita gama de assuntos apresentados nas plataformas está a maternidade dita como real. De acordo com a psicóloga do Hospital Edmundo Vasconcelos, Marina Arnoni Balieiro, esta exposição nem sempre é benéfica a quem assiste ao conteúdo.
A especialista explica que apesar de apresentarem a temática como uma realidade, há uma escolha no que compartilhar, e neste recorte, é possível que frustrações sejam despertadas nas mães que assistem a esses conteúdos. "É muito difícil basear sua realidade nas redes sociais. Nestes espaços são compartilhados o que priorizam como importante, e por isso, gera uma comparação entre as mães que consomem esse conteúdo, entendendo que a sua vida é pior", complementa.
Mão não é aquela que amamenta no peito, muitas não tem leite ou o bebê não consegue a pegada e por isso são submetidos a mamadeira. Nenhuma mãe é menos mãe por causa disso. Nenhuma mãe é menos mãe porque não teve seu filho de parto normal. Nenhuma mãe é menos mãe porque não consegue ou não sente vontade de se arrumar nos primeiros meses. Nenhuma mãe é menos mãe por pedir ajuda.
Neste cenário, a diferença de educação e possíveis falhas não devem ser vistas como pontos negativos. Marina ressalta que a relação entre pais e filhos não tem uma fórmula e depende da personalidade e estrutura familiar. "Cada um vai ter uma forma de lidar com os filhos, e nesta relação, assim como qualquer outra, a falha é inerente, e isso não torna a maternidade pior, ou melhor", reforça.
E a gente não cansa de ver assuntos relacionados ao tema, bem como uma infinidade de mães que recorrem as redes sociais em busca de ajuda. Fotos lindas de bebês recém-nascidos com a mãe ao lado toda produzida nem sempre é um bom exemplo, pois sabemos que no primeiro mês as mães estão esgotadas ao extremo, principalmente as de primeira viagem, que são aquelas que mais buscam por informações. Então pense no seguinte cenário: você, cheia de olheiras por dormir pouco pois o bebê necessita de demandas específicas, como mamar, e todas as dificuldades pois nem sempre o bebê consegue pegar no peito nos primeiros dias, isso sem falar que os bebês estão em fase de adaptação e podem trocar as noites pelos dias. Então essa foto tão linda, pode sim gerar frustração em muitas mães, que estão com a auto estima lá embaixo.
A maternidade é linda mas ela chega repleta de desafios e nem sempre os relatos ou as fotos que vemos são sinceras na íntegra. Eu mesma não tive condições de tirar nenhuma foto minha no primeiro mês. Cansada, com olheiras, ainda com sobrepeso e leite jorrando dos peitos. Por isso, atenção as fontes que você procura para não se sentir mal ou frustrada nessa sua nova jornada.
Assim como a falha, a ausência é outro assunto tratado nas redes, mas que não é totalmente prejudicial no processo de educação. Neste quesito, a psicóloga esclarece que às vezes é na falta que é possível ensinar e aprender. A partir disso a criança é estimulada a ter independência e compreender o espaço dos pais.
"Claro que quando ainda são pequenos dependem mais dos adultos, mas ensinar sobre essa ausência ajuda na rotina pessoal, e compreender que ter tempo pra si é indispensável para a saúde e para a relação com os filhos, pois é possível aproveitar o tempo juntos com mais entrega", conclui.